Hoje fazem 30 anos que o Padre Josimo Morais Tavares foi morto por pistoleiros a mando de fazendeiros, por conta de seu ativismo em defesa da reforma agrária e em defesa dos pobres.
O bico do papagaio nos anos 80 vivia uma acirrada disputa no campo, onde trabalhadores rurais, grileiros e grandes latifundiários viviam em grande tensão. Padre Josimo que era da pastoral da terra, acompanhava de perto as injustiças e ameaças que o povo sofria. Pela falta de conhecimento e por não terem poder, nem influência política, tinham seus direitos suprimidos e ainda sofriam com a violência de grupos que reivindicavam o direito exclusivo de possuírem as terras nessa região.
Josimo, de origem humilde, se tornou Padre aos 26 anos. Sensível as causas populares, seguindo sua fé nos exemplos de benevolência de Cristo, além de sua consciência cidadã e humana, aprendidas em certa medida com os estudos ao qual se dedicou nos anos de seminário, resolveu trilhar o caminho dos idealistas que fazem da ação humanística um vetor de mudança da realidade presente.
Padre Josimo enfrentou de mãos vazias, as balas, as ofensas e ameaças dos resquícios do regime militar, impostos através do autoritarismo dos "donos" da terra, os coronéis dessas bandas. A democracia ainda estava para renascer quando Josino tombaria na cidade de Imperatriz-MA, no dia 10 de maio de 1986, na Av. Dorgival Pinheiro de Sousa, na sede da CPT Araguaia-Tocantins, atingido pelas costas.
Josimo deixou um legado que ultrapassa os anos e as gerações. Se tornou o símbolo da luta contra as injustiças no campo. Um lutador, combatente do povo que nunca se viu representado. Povo que sempre esteve negligenciado. A história de Josimo fez com que o mundo se voltasse para essa região, onde a lei da opressão contra os fracos imperava. O Martírio de Josimo trouxe coragem e esperança a muitos que nele confiavam. Que seja sempre lembrado o Padre da região do Bico do Papagaio que enfrentou as injustiças causadas pelos grandes.
Esse menino padre, negro militante, Povo e Evangelho, conflito e fidelidade, pode devolver-nos a dura, teimosa, inquebrantável alegria de lugar pela Terra Prometida na terra que, para ele, ressuscitado, já é Terra gloriosa no céu. PEDRO CASALDÁLIGA
A cerca do latifúndio sabia.
Os pistoleiros, os assalariados da morte,
a polícia fardada e paisana, o GETAT,
os garimpeiros, os bêbados, as prostitutas,
as professorinhas, as beatas,
as crianças brincando no areal da rua
sabiam.
Os homens da terra, os posseiros, os saqueados,
as mulheres alfabetizadas pela dor
e pela espera
sabiam.
O prefeito, o juiz, o delegado, a UDR,
os fazendeiros, os crápulas
sabiam.
As mãos dos assassinos
poliam as armas.
A igreja sabia
e esperava…
A haste orgulhosa do babaçu
sabia.
E dobrava as palmas num lamento
e multiplicava a ciência dessa morte,
os passarinhos, o relógio dos templos
mastigando o comboio da horas
e não se deteve, a água dos rios
não se deteve, fluindo irremediável
a hora dessa morte.
A pedra dos caminhos
sabia
e permaneceu muda,
o vento sabia
e anunciava seu gemido todavia indecifrável
Tuas sandálias sabiam
e continuaram a caminhar.
Eu, que nasci votado à alegria
e vivo a contar o rosário interminável
dos mortos
não fiz o verso,
espada de fúria,
que cindisse em dois
o comboio das horas
e descarrilasse o tempo de tua morte.
Você sabia.
E sorria
apenas.
Como quem se lava
para chegar vestido
de algodão
e transparência
à hora da solidão.
Pedro Tierra
Pe. Josimo: Vida e Morte
Paraense de nascimento
Tocantinense de coração.
Depois de ordenado
Veio para esse rincão.
E ao lado do pobre
Foi cumprir sua missão.
Na luta pela defesa
Do povo trabalhador
Pe. Josimo Tavares
Uma forte luta travou
Sendo a posse da terra
O centro desse pivô.
Muitos fatos se sucederam
Nas comunidades rurais,
Nas cidades e nas vilas
E até nos matagais.
Os fazendeiros enfurecidos
Queriam matar o Morais.
As forças políticas locais,
Da polícia e fazendeiros
Tramaram o ato sangrento
Daquele homem verdadeiro.
Por causa do seu ideal
Deu a vida como um cordeiro.
A morte de Pe. Josimo
Comoveu toda a região.
O seu reflexo até hoje
nos comove o coração.
Foi exemplo de homem de fé,
Coragem e dedicação.
José de Arruda Silva
Fonte: Giano Guimarães
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