terça-feira, 4 de abril de 2017

Tocantinópolis: De um passado glorioso ou de um presente triunfante?


Por Wellington da Silva Conceição

Foto: Giano Guimarães (Beira rio Tocantinópolis)
Certa vez, passando pela Praça Darcy Marinho, visualizei dois senhores, ambos de idade avançada, em um confronto verbal para defenderem suas concepções (e convicções) em torno da cidade de Tocantinópolis. Tomado por uma curiosidade de sociólogo, resolvi acompanhar essa cena tão singular. Percebi que, mais do que uma conversa entre amigos (ou inimigos), estavam em jogo ali duas concepções sobre a cidade, que observo atentamente desde que cheguei no Bico do Papagaio. Narrarei esse interessante diálogo a seguir, mesmo que não consiga transmitir o ímpeto e a emoção dedicada pelos personagens dessa ação. 

Os dois sentados, cada qual em um banco, um de frente para o outro, apresentavam seus argumentos. O primeiro deles dizia que Tocantinópolis é uma cidade atrasada. Para isso, usava uma frase muito clichê, que escuto desde que “aterrissei” por aqui, em 2015: “Tocantinópolis é a cidade do já teve”. Em seu argumento, revela-se uma representação da cidade em que, independente de qual seja o seu presente, vive das glórias de uma história sem igual, que já a colocou em destaque na região que ocupa.

O segundo discurso, de caráter otimista, dizia que Tocantinópolis não para de crescer. Certamente, tal convicção se encaixa em um outro sentimento, também difundido entre muitos moradores dessa cidade: não existe melhor lugar no mundo para se viver do que a Boa Vista do Padre João. 

Esses dois discursos, por mais interessantes que sejam, apresentam aspectos que podem ser perversos para a dinâmica política da cidade (e falo política em uma perspectiva ampla, de busca do bem comum), inclusive no campo dos direitos. No primeiro caso, o passado glorioso parece diminuir o peso de todo tipo de problema pelo qual a cidade passa. Como um entorpecente, as lembranças deixam alguns moradores anestesiados diante das mazelas presentes, e sem disposição de lutar por mudanças. 

O outro, é otimista diante de uma cidade que precisa se desenvolver em muitos aspectos, como se esta não precisasse de mudanças emergenciais. Políticas culturais, de turismo (com a devida valorização de seus monumentos naturais), transporte público, ampliação das especialidades médicas nos serviços de saúde, a construção de uma nova relação com os povos indígenas, a revitalização de espaços públicos, melhora do investimento e da qualidade na educação: tudo isso poderia colocar Tocantinópolis em outro patamar, tornando a cidade mais agradável para a sua população e atrativa para os de fora. Algumas dessas políticas já existem, mas ainda são pouco abrangentes ou insuficientes diante dos potenciais que a cidade apresenta.

Aliás, se entrasse naquela conversa, diria que Tocantinópolis é a cidade das potencialidades. Das potências que se perderam no passado, que ainda podem ser resgatadas, e das potências presentes, que podem ser desenvolvidas. E potencialidade que não se torna realidade, não serve para nada. Vejo as potências dessa cidade e de sua população, por exemplo, quando vejo o quadrilhódromo cheio no mês de junho. 

A cidade parece mais viva que no restante do ano. Será que o tocantinopolino não quer outras oportunidades de encher suas ruas, de ocupar essa beira rio que nos aproxima do tão amado Tocantins? É triste passar pelo quadrilhódromo o resto do ano e encontrar aquele espaço vazio. Passo o ano sentindo saudades da cidade que encontro fervendo nos dias da competição de quadrilhas. 

Por fim, desculpem o estrangeiro intrometido. O olhar que tenho de Tocantinópolis é bem generoso, de uma cidade que me acolheu e que tem me proporcionado experiências únicas na vida pessoal e profissional. Talvez não pudesse ser diferente: assim como vocês, sou filho de um rio, mesmo que seja do Rio de Janeiro. Ao olhar para essa cidade como de potencialidades, não nego as glórias do seu passado e nem deixo de reconhecer a graça do seu presente: só aponto que ela pode ser muito melhor para a sua população, e é isso que ela merece. 

Wellington da Silva Conceição
Professor no curso de Ciências Sociais (UFT Tocantinópolis)

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