quarta-feira, 11 de maio de 2016

As Revoltas de Boa Vista do Tocantins

Primeira revolta de Boa Vista

primeira revolta de Boa Vista do Tocantins, por vezes denominada de primeira guerrilha do Tocantins, foi uma série de acontecimentos que ocorreram no norte da província de Goyaz, envolvendo também a província do Maranhão. As hostilidades se iniciaram em março de 1892, e só foram finalizadas após a mediação de autoridades maranhenses e do frei Gil de Vila Nova.
O conflito envolveu grupos oligarcas locais, que se enfrentaram após a proclamação da república, pelo domínio do poder na esfera regional. A revolta também foi de cunho emancipacionista, pois tinha o objetivo de desvincular o norte de Goyaz da tutela de Vila Boa de Goyaz.
Antecedentes
A província de Goiás, que á época do império, era governada por grupos conservadores ligados a Dom Pedro II, teve sua frágil estrutura política abalada após a proclamação da república, feita pelo Marechal Deodoro da Fonseca. A unidade da província estava continuamente sob ameaça de movimentos secessionistas, principalmente alojados na região norte do território.
Inúmeras declarações separatistas haviam sido feitas, sendo as mais relevantes por Theotônio Segurado, que por seguidas vezes intentou criar a província de São João da Palma (também chamada de São João das Duas Barras), e por Leão Leda, que chegou a declarar a República de Pastos Bons, que englobava os territórios do atual estado do Tocantins, sul do Pará, e sul do estado do Maranhão.
Outro fator que antecedeu a revolta foi a situação de caos vivida na região após a destituição das autoridades constituídas pelas forças imperiais. Isto permitiu que outros grupos oligarcas almejassem ascender a política local, normalmente utilizando meios coercitivos para tal.
A revolta
O coronel Carlos Leitão, chefe político de Boa Vista do Tocantins ligado ao Partido Republicano de Goiás (bullhonistas/deodoristas), se beneficiou politicamente com a queda do império, pois viu seus inimigos políticos (ligados ao império) serem destituídos. Aproveitando-se da situação, tomou o poder local, e tornou-se deputado constituinte, e chefe da Coletoria de Impostos da Província de Goyaz.
Após tomar o poder local Leitão, sendo ligado ao então presidente da província do Maranhão, Manuel Inácio Belfort Vieira, disseminou na região a proposta de separação da região norte de Goyaz, e a anexação desta a província do Maranhão. Não obtendo apoio entre os próprios políticos maranhenses, propõe que o norte de Goyaz se separe juntamente com o sul do Grão-Pará para formar a província de Boa Vista. Os movimentos acirraram os ânimos dos demais grupos políticos conservadores locais, os florianistas, e também chamou a atenção dos grupos políticos de Vila Boa e Porto Nacional, que imediatamente reagiram. A diocese de Vila Boa de Goyaz publicou em seu periódico uma nota repudiando a atitude do coronel, e em seguida o frei Francisco de Monsavito o excomungou.
Em 1893 Leitão chegou a declarar-se presidente (governador) da província de autônoma de Boa Vista, mas não conseguiu o suporte político que desejava, e acabou por fazer mais inimigos, principalmente dentro da diocese de Goyaz.
Leitão, se aproveitando de sua posição como juiz da comarca de Boa Vista, arquivara em 1890 o processo criminal de seu inimigo político, Cláudio Gouveia (acusado de assassinato), e passou a leiloar os bens pertencentes a este de forma irregular, muitas vezes adquirindo os próprios bens leiloados. Ao assumir o cargo de deputado constituinte teve de se licenciar de sua função de juiz, e em seu lugar foi nomeado o pernambucano Henrique Hermeto Martins. O juiz Hermeto Martins reabriu o processo criminal de Cláudio Gouveia e o inocentou, revertendo também os leilões irregulares feitos por Leitão. Leitão imediatamente reagiu, e tentou impor a destituição do magistrado, não logrando sucesso. Este ato ocasionou o estopim da crise política na região.
Acirramento do conflito
No início de março de 1892 frei Gil de Vila Nova, apoiado pela diocese, e pelo intendente municipal Francisco de Sales Maciel Perna, inimigo político de Leitão, expulsam-no da cidade de Boa Vista, obrigando-o a ir para Carolina no Maranhão. Neste episódio um irmão de Leitão acaba por ser assassinado.
Leitão e seu grupo político arregimentaram armas e peões (pistoleiros), e em 31 de março de 1892 tentaram retomar o controle da cidade. O confronto seguiu até 2 de abril, com Leitão sendo novamente expulso.
Após este episódio Leitão tentou consecutivas vezes tomar o controle de Boa Vista. Em agosto de 1893, Leitão retoma o controle da cidade ao prender o intendente Maciel Perna. Ele consegue enviá-lo preso ao Rio de Janeiro, mas Maciel Perna livra-se por meio de um habeas corpus e retorna a cidade. Leitão aproveita-se da oportunidade e declara-se presidente (cargo á época correspondente ao de governador) da província autônoma de Boa Vista, estabelecendo seu governo na cidade homônima. Em dezembro após um novo confronto perde definitivamente o controle da cidade, e é expulso.
Desfecho
Após fracassadas tentativas de retomar o controle de Boa Vista, Leitão aceita negociar o fim do conflito com os irmãos Maciel Perna em fevereiro de 1894. Com mediação de políticos maranhenses e do frei Gil de Vila Nova o conflito acaba, com Leitão e seu grupo político abandonando definitivamente a região. Leitão se dirige com seus aliados e sua família para o Grão-Pará.
Após o armistício de 1894 fortaleceu-se na região o grupo conservador, ligado ao Partido Democrata, liderado pelos irmãos Maciel Perna. O armistício também enfraqueceu o projeto secessionista regional, que ficou paralisado até 1907, entretanto serviu para fazer ressurgir a luta pela emancipação de Tocantins, que havia ficado estagnada desde a morte de Theotônio Segurado.
A crise política deixou profundas marcas na sociedade local. Este fato acabou levando a Segunda revolta de Boa Vista, que ocorreu devido aos mesmos fatores que levaram a primeira: questões emancipacionistas e luta entre grupos oligarcas pelo domínio da política local.

Segunda revolta de Boa Vista

segunda revolta de Boa Vista do Tocantins, por vezes denominada de segunda guerrilha do Tocantins, foi uma série de acontecimentos que ocorreram no norte da província de Goiás, envolvendo também as províncias do Maranhão e Grão-Pará. As hostilidades se iniciaram em abril de 1907, e só foram finalizadas após um sangrento conflito que levou a morte de Leão Leda, o principal líder oligarca da região, em março de 1909.
O conflito contrapôs grupos oligarcas da região e o clero que disputavam o domínio do poder político na esfera regional. Assim como a primeira revolta, a segunda também foi de cunho emancipacionista, pois tinha o objetivo de desvincular territórios para a formação de um novo estado.
A segunda revolta tem seus antecedentes ligados aos desdobramentos da primeira revolta de Boa Vista, que envolveu principalmente conflitos entre oligarcas e rebeliões emancipacionistas.
Embora encerrados em 1894 por intermédio de autoridades maranhenses e por frei Gil de Villa Nova, após a morte do frade, os conflitos de Boa Vista ressurgiram. O grupo oligarca do coronel Leitão havia sido destituído do poder local, e o poder se concentrava agora em grupos conservadores ligados à Diocese de Goiás. A disputa entre conservadores (federalistas) e liberais (bulhonistas) é o que realmente estava por trás destes conflitos.
As propostas emancipacionistas revividas durante a primeira revolta de Boa Vista, agora tinham mais apelo e apoio, além de proporção macrorregional, englobando populações dos territórios do Goiás, Maranhão e Grão-Pará. No auge, o conflito quase pôs emguerra civil o Goiás e o Grão-Pará.
A revolta
Os bulhonistas – enfraquecidos desde sua expulsão de Boa Vista do Tocantins em 1894 (haviam perdido o domínio político na esfera estadual em 1893), estavam se recompondo desde 1898 com a chegada de Leão Rodrigues de Miranda Leda (coronel Leão Leda) e seu grupo á cidade. Leão Leda havia sido expulso do Maranhão por conflitos ocorridos no Alto Sertão, envolvendo a proclamação da República de Pastos Bons. Leão Leda trouxe a ideia juntamente consigo quando mudou-se para Goiás, transformando-a no "estado de Pastos Bons". 
Leão Leda com o apoio do governo de Goiás, através do governador Rocha Lima, tomou o poder em Boa Vista, confrontando o domínio das autoridades eclesiásticas, que dominavam a política local. Através do governador, conseguiu que se nomeasse como juiz da comarca de Boa Vista do Tocantins, Cantídio Bretas, e como promotor público, Adelmar Macedo, que era seu genro.[6]
O principal rival político de Leão Leda era o padre João de Sousa Lima (posteriormente Cônego João Lima), que além de sacerdote havia sido político influente em Boa Vista, chegando a ser eleito intendente e deputado pela cidade.
Para enfraquecer domínio de padre João, Leão Leda arregimentou bandos de jagunços para roubar gado, cereais e outros pertences de aliados do padre. Esta atitude enfureceu o padre João e a diocese de Goiás, que o excomungou acusando-o de ser judeu (de fato era judeu) e sob a alegação de ser ligado á maçonaria.
Desdobramentos iniciais
O estopim da crise se deu nas eleições municipais de Boa Vista, quando Leão Leda foi eleito intendente. Abriu-se uma crise institucional porque os votos dados a Leão Leda foram tidos como comprados. Não aceitando o resultado das eleições o padre João tenta retomar o poder em Boa Vista organizando um ataque ao grupo do coronel Leão Leda no dia 23 de maio de 1907. Neste ataque morreu Tomas Moreira, genro de Leão Leda.
Os combates entre os grupos rivais seguiram, e em julho de 1907 a cidade de Boa Vista do Tocantins estava quase totalmente destruída. Casas comerciais haviam sido arrombadas e saqueadas, o cartório, a agencia do correio nacional, e boa parte dos prédio públicos haviam sido destruídos, com todos os documentos sendo queimados. Os destacamentos da Guarda Nacional não conseguiam por fim ao conflito, sendo obrigada se retirar da localidade. No mesmo mês a comarca de Boa Vista foi desativada e transferida para Porto Nacional.
Padre João, se aproveitando da transferência da comarca, retoma o controle total de Boa Vista em janeiro de 1908, e põe seus esforços para expulsar o coronel Leão Leda definitivamente da região, conseguindo apoio da diocese do Maranhão para isto.
Com a transferência da comarca para Porto Nacional, o grupo de Leão Leda perdeu suporte político, mudando-se para localidades próximas. Os conflitos então se alastraram pelas localidades vizinhas, chegando em Filadélfia em agosto, e ao estado do Maranhão, nas cidades de Porto Franco e Carolina, em setembro de 1907. Em dezembro do mesmo ano explode nas localidades goianas de São Vicente do Araguaya e Pedro Afonso.
A primeira etapa do conflito foi vencida por padre João, que conseguiu empurrar seus opositores para longe de seu território de influência. 
Declaração de Marabá
Influenciados pelo conflito que se desdobrava no estado vizinho, e com o apoio do grupo de Leão Leda, um movimento separatista se desenvolveu no Grão-Pará paralelamente. Este movimento tentou anexar os territórios do sul do Grão-Pará ao Goiás em 1808.
As localidades de Alcobaça, Marabá, São João do Araguaya e Conceição do Araguaya declararam-se independentes, no ato que ficou conhecido como “declaração de Marabá”. Nomearam João Parsondas de Carvalho como advogado e negociador junto á Goiás. O projeto foi bem recebido pelo presidente Rocha Lima, que conseguiu a rápida aprovação da anexação no congresso estadual, nomeando Norbeto de Mello como chefe da Coletoria do Oeste de Goiás, e criando no mesmo despacho a comarca de Marabá.
O grupo de Leão Leda se beneficiou com isto, visto onde estava alojado, em Porto Franco, enfrentava constantes ataques de aliados de padre João. Em meados de 1908, Leão Leda e seus aliados mudam-se para o oeste goiano (territórios do Grão-Pará que haviam sido anexados). No mesmo ano, fixa-se em Conceição do Araguaya.
Última fase do conflito
Após perder o controle de Boa Vista, os conflitos ainda se desenrolaram em Porto Franco, Filadélfia e Pedro Afonso até junho de 1908, quando Leão Leda retirou-se finalmente da região.
Em janeiro de 1909, ao estabelece-se em Conceição do Araguaya, Leão Leda junta forças políticas (apoio de seu sobrinho, o político e comerciante Estevão Maranhão) e declara a criação do estado de Pastos Bons. Este ato enfureceu a diocese de Goiás, que temia a perda de uma de suas principais e mais lucrativas missões. Devido a isto, Dom Domingos Carrerot, bispo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, passa a confrontá-lo publicamente, acusando-o de ser herege e ligado á maçonaria.
Em 3 de fevereiro de 1909 após Leda juntar jagunços para roubar e depredar propriedades de seu inimigo político, Dom Carrerot, explode um novo conflito, desta vez envolvendo as localidades de Conceição, Santa Maria do Araguaya (atual Araguacema), e Porto Araguaya (atual Couto Magalhães). Carrerot também arregimenta grupos armados, que passam a atacar aliados de Leão Leda.
Após um mês de conflitos, Dom Carrerot arma uma emboscada, e entre 8 e 9 de março de 1909, após um violento conflito, mata 52 dos aliados Leda, capturando também o próprio Leda e seu filho, sendo estes linchados e mortos pela população local.
Desfecho
O conflito se encerrou com a morte de Leão Leda, fator que influencia na total desarticulação do grupo bulhonista no norte de Goiás. Demonstra também que a estrutura política do Estado, ainda não havia se consolidada, mesmo após quase uma década deproclamada a república no Brasil. O grupo conservador (federalistas) fortaleceu-se sobremaneira em todo o Goiás.
Após o fim do conflito, o clero reforçou sua influência sobre a região, e demonstrou grande capacidade de articulação em todos os níveis de poder. Destacam-se também os atos de extrema violência referendados pelas autoridades eclesiásticas.
Após este conflito, o Grão-Pará finalmente retoma o controle do sul da província. Mesmo tendo criado os municípios de São João e Conceição em 1808, somente ressume o controle total da região em 1909. As autoridades goianas ainda esboçaram retomar o controle da região, mas a possibilidade da explosão de uma guerra civil entre os estados as faz desistir.
Os movimentos emancipacionistas também ganharam força e peso, influenciando populações de três estados, mas não articulados o suficiente para consolidar resultados maiores. No entanto lançaram-se as bases para a construção de novas propostas para o estado do Tocantins, sendo a principal delas, por Lysias Rodrigues na década de 1930. A revolta também fez surgir os ainda insipientes movimentos emancipacionistas do Maranhão do Sul e Carajás.

REFERÊNCIAS

MARTINS, Mário Ribeiro. «O Crime do Coronel Leitão». Usina de Letras.
ALMEIDA, Donizete. «Resumo: As Revoltas de Boa Vista do Norte Tocantins: Padre João – João de Sousa Lima e as relações sociais no extremo norte de Goiás séculos XIX- XX.». Colégio Girassol de Tempo Integral.
COELHO, Maria do Socorro Coelho. «Ideais e Manifestações Republicanas no Sertão Maranhense» (PDF). PPPG UFMA.
GOMEZ, Luis Palacín (1990). Coronelismo no Extremo Norte de Goiás: O Padre João e as Três Revoluções de Boa Vista - Tocantinópolis (São Paulo: Edições Loyola). p. 121.
CARDOSO, Clodoaldo. «Pastos Bons» (PDF). IBGE.
MARTINS, Mário Ribeiro. «Tolstoi e o Padre João: Quem foi Leão Leda?». Usina de Letras.
«Da Diáspora ao Holocausto da Família Leda». Jornal Pequeno. Texto "RIBEIRO, Felinto" ignorado (Ajuda)
«História». Portal Estado do Carajás. Consultado em 13 de setembro de 2011.
Ribeiro, Laércio. . "Agora é Carajás". Foco Carajás (7): 60. Visitado em 18 de setembro de 2011.
OLIVEIRA, Fátima. «O sonho da Sibéria maranhense». Jornal O Tempo.
FERREIRA, Antônio José de Araújo. «O Estado do Maranhão do Sul: velha ideia e realidade?» (PDF). Núcleo de Humanidades da UFMA.
GOMEZ, Luis Palacín (1990). Coronelismo no Extremo Norte de Goiás: O Padre João e as Três Revoluções de Boa Vista - Tocantinópolis (São Paulo: Edições Loyola). p. 121.
«Carlos Gomes Leitão». Maraba Online.
«Perfil biográfico de Carlos Gomes Leitão». AL Goiás.
«História». Universidade Federal do Tocantins.
Fonte: pt.wikipedia.org

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