quarta-feira, 25 de maio de 2016

Rio Tocantins, estiagem e desalento

Em meus anos vividos, nunca tinha visto o leito do nosso rio tão baixo quanto neste ano. Jamais vi tantas pedras expostas e o nível do rio tão abaixo do que é de costume para esta época. 

Ao mesmo tempo que vemos uma paisagem diferente, até bonita, ficamos preocupados com desequilíbrio ecológico vivido nestes últimos tempos. Ver o rio tão baixo, justo no mês de abril, é estranho, mas tem sido cada vez mais comum nos últimos anos. Principalmente depois que a barragem de Estreito foi concluída. 

Me lembro do tempo em que por muitos anos, era quase que uma regra a exatidão do ciclo das águas do Tocantins, de meados de outubro até o início de junho o rio tinha sua cheia, logo em seguida começava a baixar, então tínhamos a estiagem e o rio descobria suas rochas, suas praias e suas ilhas. Hoje em dia, no período que era de cheia, ao sabor e mando da UHE de estreito, as águas do rio sobem ou descem. Num mesmo dia a praia do meio fica a vista e depois desaparece.

É evidente que neste ano tivemos uma estiagem fora de época, poucas chuvas caíram, e isso também pode ter influenciado no volume tão baixo do rio. Mas somado a isto, é também inegável as mudanças causadas pelos impactos de grandes empreendimentos no curso do rio. 

A mão do homem, como sempre, para o bem e para o mal, afetou drasticamente todo um ecossistema, toda uma região em nome do "progresso" que nem sempre chega, ou que chega para alguns poucos apenas. A UHE de Estreito a seu tempo, gerou empregos, mexeu com a economia da região, foi motivo de promessas e de ilusões. Foi motivo de injustiças, de desapropriações, de sacrifícios ambientais incalculáveis. Essa mega obra afetou extraordinariamente o rio e seu equilíbrio ecológico. Disseram que tudo estava sob controle e que todos os impactos eram previsíveis. Será mesmo? 

Esse rio já foi uma grande hidrovia, que rotineiramente dava lugar a muitas embarcações que navegavam de Belém a porto nacional e vice-versa. Hoje o rio se tornou um rio de barreiras intransponíveis. Esse rio que já foi um grande celeiro para pequenos trabalhadores, hoje é um rio de exploradores gigantes. 

O Rio Tocantins continua belo, ainda mata nossa sede e nos refresca sempre que possível, mas já não é mais o mesmo. Esse rio, é um rio que está dando mais do que pode dar, e tem sofrido e chorado com a dor que o homo progressus tem lhe causado nos últimos anos, com uma força muito superior àquela que era causada antes das barragens e do crescimento das grandes cidades a sua margem. 

Espero que este rio guerreiro resista por muitas gerações, e que desde já sejamos conscientes de nossa responsabilidade em preservar o que ainda é possível. 

Fonte: Giano Guimarães

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